domingo, 25 de março de 2012

Exu sempre foi ranzinza e encrenqueiro, adorava provocar confusões e fazia brincadeiras que deixavam a todos confusos e irritados. Certa manhã acordou desalentado, afinal quem era ele? Não fazia nada, não tinha poder algum, perambulava pelo mundo sem ter qualquer motivação. Isso não estava correto. Todos os orixás trabalhavam muito e tinham seus campos de atuação bem definidos e para ele nada fora reservado. Essa injustiça ele não iria tolerar. Arrumou um pequeno alforje e colocou o pé no mundo. Iria até o Orun exigir explicações. Depois de muito andar, finalmente chegou ao palácio de Olorun. Tudo fechado. Dirigiu-se aos guardas do portão e exigiu uma audiência com o soberano. Eles riram muito. Quem era aquele infeliz para vir ali e exigir qualquer coisa. Exu ficou enfurecido nem os guardas daquela porcaria de palácio o respeitavam. Passou então a gritar impropérios contra o grande criador. Imediatamente foi preso e jogado em uma cela onde ficou imaginando como sair daquela situação. Já estava arrependido de ter vindo, mas não daria o braço a torcer. Iniciou novamente a gritaria e tanto barulho fez que Olorun decidisse falar com ele. Exu explicou o que o trazia ali, falou da injustiça que se achava vitima e exigiu uma compensação. Pacientemente o pai da criação explicou que todos os orixás eram sérios e compenetrados, mas que ele, Exu, só queria saber de confusões e brincadeiras. Então como ousava tentar se igualar aos companheiros? Que fosse embora e não o aborrecesse mais. Era assim? Não prestava para nada? Era guerra? Resolveu fazer o que mais sabia.



Comer! Todos sabiam de sua fome incontrolável desde o nascimento. Desceu do Orun e começou a atacar os reinos dos orixás. Comeu as matas de Oxóssi. Bebeu os rios de Oxum. Palitou os dentes com os raios de Xangô. O mar de Iemanjá era muito grande e ele foi bebendo aos poucos. A terra tornou-se árida e prestes a acabar. Por conta disso todos os orixás correram ao palácio em completo desespero. Exu imediatamente foi preso e arrastado novamente até o Orun, desta vez, porém, sentia-se vitorioso. Exigiu ser tratado com respeito e assumir um lugar no panteão divino. Se assim não fosse, nada devolveria e comeria o restante do mundo. Foi feita então uma reunião para se resolver o grande problema. Olorun não poderia julgar sozinho, todos que ali estavam tinham muito a perder. Depois de muita discussão chegaram a um consenso. Exu seria o mensageiro de todos eles, o contato terreno entre os homens e os deuses. Ele gostou, mas ainda perguntou: - E vou morrer de fome? - Nova discussão. Decidiram então que todos os orixás que recebessem oferendas entregariam uma parte a ele. Exu saiu satisfeito, agora sim tinha a importância que merecia, desceu cantarolando e devolvendo pelo caminho tudo que tinha comido. E a paz voltou a terra, mas ficou o recado: Com Exu ninguém pode!


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